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AS ORIGENS DOS PRINCIPIA – PARTE I

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O sacolejar da carruagem estava deixando-o enjoado. Na noite anterior, bebera além da conta. Não devia ter feito isso, pois mesmo que a perspectiva do futuro encontro o desagradasse, precisava permanecer com a mente clara para enfrentar o desafio que tinha pela frente. Recostando-se no acento, relembrou os acontecimentos que antecederam essa sua difícil jornada.

 

Era uma noite fria de janeiro. No entanto, na sala que ocupavam na Royal Society, em Londres, a lareira acesa deixava o ambiente aquecido e agradável. Quando toda a história começou, dois de seus colegas discutiam, acaloradamente, qual seria a estrutura do mundo.

A antiga ideia de a Terra ser o centro do universoalgum tempo havia sido abandonada. Agora, no ano de 1684, prevalecia a teoria heliocêntrica. Nela, os planetas giravam em torno do Sol, que por sua vezcomo provara Herr Kepler – ocupava um dos focos de uma elipse.

 

Ele lembrou também que naquela noite estava nervoso. Tinha perdido uma grande soma de dinheiro em um jogo de cartas. Sua posição como astrônomo e membro da Royal Society o obrigava a certas despesas que agora estariam seriamente comprometidas pela falta absoluta de recursos. Por essa razão, demorou a entender o que seus colegas estavam discutindo.

 

- No entanto, apesar de não conseguir provar, acredito que exista uma força dirigida para o Sol e que ela é inversamente proporcional ao quadrado da distância – dizia o homem, chamado Chistopher Wren, um famoso arquiteto e matemático, responsável pela construção da capela do Colégio Pembroke, em Cambridge, e do Teatro Sheldonian, em Oxford.

- Sim, eu concordo. Somente uma força dessa natureza seria capaz de explicar a trajetória dos planetas – assentiu Hooke, um dos mais brilhantes experimentalistas da Royal Society. – O que você acha Halley? – perguntou, com inocência, enquanto se virava para ele.

 

Halley sabia que Hooke não o apreciava. Considerava-o um membro pouco confiável, sem a devida qualificação moral para pertencer àquela que, para ele, era a sociedade científica mais importante da Europa. Além disso, o último escândalo no qual esteve envolvido – para sua infelicidade, engravidara a filha de um companheiro de viagem –, serviu para aumentar ainda mais a má vontade de seus colegas. E, entre seus mais assíduos detratores, estava justamente o homem que tinha lhe feito a pergunta.

 

- Eu concordo plenamente com os dois. No entanto, sempre esbarramos no mesmo problema: a formulação matemática. Até hoje, pelo que sei, nenhum matemático ou filósofo natural conseguiu elaborar uma teoria matemática consistente que embasasse essa ideia – respondeu com firmeza, esperando colocar um ponto final naquela discussão inútil. Ele precisava se concentrar no seu problema mais imediato: conseguir dinheiro para pagar suas dívidas.

 

Um novo silêncio se instalou na sala. Enquanto Halley pensava em como se safar de seus problemas financeiros, os outros dois continuavam ruminando sobre essa que era uma das perguntas mais recorrentes entre os ditos filósofos naturais: o que faz os planetas girarem em torno do Sol?

 

Passado um tempo, no qual apenas se ouvia o ruído do pêndulo do relógio, Wren, inesperadamente, bateu com a mão no braço da poltrona em que estava sentado e lançou a seguinte provocação:

- Pois bem, caros amigos, chega de debates e especulações. Proponho a vocês, e a quem mais quiser participar, o seguinte desafio: quem conseguir provar como e por que os planetas giram em torno do Sol, descrevendo qualitativa e quantitativamente as forças ali presentes, será recompensado com uma soma em dinheiro no valor de 40 xelins.

 

Hooke, apesar de sua natureza taciturna, estava sempre querendo provar o valor de suas ideias e experimentos. Portanto, não foi nenhuma surpresa quando ele imediatamente aceitou o desafio.

Halley, ainda imerso em seus pensamentos, se interessou realmente pela última parte da proposta, aquela que se referia a um prêmio de 40 xelins, quantia equivalente ao lucro mensal de um comerciante rico. Logo, assim como Hooke, não esperou que Wren desse para trás e também aceitou entrar na competição. O problema era que ele sabia não estar à altura de semelhante empreitada. Mesmo sendo um astrônomo conhecidoafinal, fora ele quedois anos observara o cometa que havia passado pela Terra –, matemática não era o seu forte. Porém, a aposta tinha sido feita e ele usaria de todos os recursos para conquistar o prêmio.

 

E agora aqui estava ele, dentro dessa carruagem sacolejante, indo ao encontro daquela que, na opinião da maioria de seus colegas – excetuando Hooke, é claro –, seria a única pessoa capaz de responder a pergunta formulada por Wren. Halley receava que a conversa não seria fácil. Talvez ele nem quisesse ouvi-lo; afinal, ficara sabendo que esse homem de caráter estranho, era, além de tudo, um carola. Se ele conhecia a sua reputação tinha medo de ser rechaçado. No entanto, precisava arriscar: carola ou não, todos o consideravam um matemático extraordinário.

 

Nervoso, Halley viu a carruagem aproximar-se do edifício do Trinity College, em Cambridge. Era ali que esse homem, além de ocupar a cadeira lucasiana de Matemática, mantinha seu laboratório; e se os boatos estavam corretos, lugar no qual ele permanecia a maior parte do seu tempo. Quando a carruagem finalmente parou, Halley percebeu que estava prestes a dar um passo importante em sua vida. Apesar de ter sido a motivação inicial, a aposta e, consequentemente, o prêmio, agora ficara em segundo plano.

 

Naquele momento, sua atenção estava concentrada em encontrar as respostas para as causas mais profundas que estruturavam o universo, aquelas que punham em movimento a Lua e os planetas. Portanto, com a certeza de ter vindo ao lugar certo, Halley preparou-se para o encontro.

 

Continua…

 


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